Fabiano Campelo Bechelany

Este projeto dá continuidade a uma pesquisa iniciada há uma década e que visa avançar parâmetros interpretativos sobre a atividade cinegética entre os povos ameríndios. O ponto de partida é o material etnográfico coletado entre os Panará, povo que habita às margens do rio Iriri, bacia do rio Xingu, entre os estados do Mato Grosso e Pará. Na atual fase, a pesquisa busca uma escala comparativa, abordando outras etnografias que tratam da caça e os caçadores ameríndios. Inicialmente, tratou-se de produzir uma descrição das relações técnicas que a caça implica, mobilizando recursos analíticos da antropologia da técnica em uma perspectiva ontogenética das interações entre o humano e o técnico, assim como as formulações de autores a respeito dos engajamentos práticos do organismo com o ambiente. A partir de uma descrição qualificada dos processos da caça, questões relativas às propriedades dos humanos e não-humanos e os modos de conhecimento e de constituição do espaço da floresta foram analisadas. O passo agora é buscar elaborar sínteses do material etnográfico sobre a caça entre os povos ameríndios. Simultaneamente, propõe-se agora elaborar uma análise dos diferentes discursos científicos e paradigmas que tomaram a caça como objeto, em especial na região em tela. Inicialmente, serão analisados a abordagem materialista da ecologia cultural na antropologia e diferentes estudos no campo das ciências naturais (em especial a ecologia) que se dedicam a investigações sobre a caça. A hipótese é que nossas práticas de conhecimento encerram alguns pressupostos que enquadram a caça indígena em uma relação econômica, devedora da nossa ontologia naturalista em que natureza e cultura operam uma grande oposição que se revela inadequada para o entendimento das ontologias ameríndias. O objetivo é procurar compreender as mediações da caça no universo indígena que nos permitam calibrar melhor nosso conhecimento sobre outros modos de relação produtiva, de transformação da natureza e de experiência ecológica.