Objetos relativos
As chamadas comunidades ribeirinhas ou caboclas da Amazônia apresentam vasto conhecimento sobre o meio e seus seres. É preciso lembrar, porém, que este conhecimento não é um estoque abstrato de ideias e informações. Ele é, quase sempre, mediado por objetos, produzidos localmente ou não. Estes são acionados pelo saber-fazer e estão incluídos em processos técnicos, em situações lúdicas ou de trabalho. Os objetos não existem isolados, mas vivem a vida das pessoas e dos ambientes, de tal maneira que suas características não são intrínsecas, mas emergem em distintos fluxos de ações. Este ensaio explora diferentes formas de conexão entre objetos e pessoas na Vila Sucuriju, no Amapá. Mostram-se aqui como eles podem estar implicados em modos de ação bastante diversos, incluindo a manutenção, tensão ou conexão. Por isto, é demasiado genérico, às vezes até etnocêntrico ou antropocêntrico, afirmar que os objetos devem ser caracterizados por sua agência, biografia, engajamento ou materialidade. Ao invés de partir do pressuposto genérico de que os objetos são dotados de propriedades similares às humanas, é preferível considerar a relação entre objetos e humanos como uma questão etnográfica, digna de uma tecnologia– uma reflexão antropológica sobre a técnica, nos termos de Mauss. Isto passa por aproximar-se de seus modos de existência, percebendo suas propriedades em relação, já que elas estão sempre implicadas em processos envolvendo outros seres e objetos. Assim, os objetos nos convidam a seguir a sugestão de Mauss, procedendo do concreto ao abstrato, e não inversamente. Neste espírito, o presente ensaio explora contrastes e comparações entre pares de objetos.
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